Reservas internacionais alcançaram os US$ 189,432 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que na semana passada, e cresceram 110% em um ano.
27/02/2008 - 19h10
Dólar desvaloriza e atinge o nível mais baixo em nove anos
Omar Lugo Rio de Janeiro, 27 fev (EFE).- A queda internacional do dólar pesa hoje com especial força no Brasil, onde a moeda norte-americana desvalorizou hoje mais de 1% frente ao real e a taxa de câmbio fechou a R$ 1,672 para a venda.
Segundo o Banco Central, o dólar comercial fechou em uma média de R$ 1,671 para a compra e R$ 1,672 para a venda, a oitava baixa consecutiva, o que indica que deverá se consolidar em novos níveis de referência, abaixo da barreira psicológica de R$ 1,70, ultrapassada na segunda-feira passada.
Especialistas consultados pela Agência Efe apontam que no mercado cambial brasileiro hoje existem duas forças. De um lado, a forte depreciação do dólar frente as principais moedas do mundo - como o euro e o iene - e de economias emergentes, como o iuane chinês e o próprio real.
De outro lado, a moeda brasileira vive um forte apreciação acumulada nos últimos cinco anos que se mantém firme.
Esse processo é reflexo da estabilidade econômica do Brasil, da liquidez internacional e especialmente dos fortes aumentos de preços das matérias-primas e produtos básicos, principais fontes de divisas por exportações do país.
Somente desde o dia 15 de fevereiro até hoje o dólar desvalorizou 3,76% frente ao real.
No mesmo período, o real ganhou 3,5% frente ao dólar, ao passar de US$ 0,57 para US$ 0,59, a unidade.
Poucos analistas duvidam hoje que esta tendência será mantida, uma vez que está sustentada pelas condições econômicas favoráveis do Brasil e suas taxas de juros reais, entre as mais altas do mundo, com um mínimo referencial de 11,25%, quase quatro vezes mais que os títulos do Tesouro dos EUA.
Enquanto isso, nos EUA, o Federal Reserve (Fed) apontou novas reduções dos juros para estimular uma economia arrefecida - o que impulsiona correntes do capital especulativo para investimentos mais rentáveis.
A revalorização do real corresponde a uma mudança positiva na economia brasileira, indicou o economista Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
"Mas, por outro lado, uma revalorização tão forte faz crescer as importações e pode ser extremamente perigosa", afirmou em entrevista à Efe.
Alguns setores como calçados, têxteis, vestuário e eletrodomésticos, perdem competitividade exterior ou enfrentam a concorrência de importações baratas provenientes de países como China, que têm mão-de-obra mais barata e moeda não tão valorizada, assinalou Mol.
O saldo das exportações brasileiras não foi prejudicado pela taxa de câmbio porque as vendas estão concentradas em produtos básicos e matérias-primas, como soja, café, açúcar e minério de ferro, cujos preços seguem em alta, puxada pela forte demanda internacional.
O ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, disse ontem que o Governo elevou sua projeção de exportações para 2008 de US$ 172 bilhões para US$ 180 bilhões.
A revisão obedece a um aumento de 65% do preço do minério de ferro, recém estipulado pela Vale com seus clientes mundiais, explicou Jorge.
O mercado local reflete ainda os resultados de 2007, quando o Brasil obteve um superávit cambial (diferença entre os dólares que entram e os que saem do país) de US$ 87,5 bilhões.
Estes fluxos de divisas "encontram-se bem distribuídos" entre exportações, investimentos diretos, mercados de capitais e dívida pública, além de empréstimos diretos, segundo o BC.
"É inquestionável que a moeda americana está sob forte especulação no mercado brasileiro e não há como indicar um provável limite para a queda do preço, ou seja, para a valorização do real", declarou hoje em relatório a operadora de investimentos NGO Corretora.
"A grande dúvida do momento não é se o dólar cairá, mas até onde cairá", diz a análise.
Enquanto isso, o Governo insiste que o Brasil se converteu em um credor líquido, pois seus ativos internacionais já superam o total da dívida externa nacional, pública e privada, atualmente em US$ 182 bilhões.
O BC informou hoje que na terça-feira as reservas internacionais alcançaram os US$ 189,432 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que na semana passada, e cresceram 110% em um ano.